Hoje no Rio duas construções são lembradas como o "Pavilhão Mourisco". A mais recente é o castelo da Fundação Oswaldo Cruz em Mangunhos.
Nesse post me refiro a mais antiga, que ficava em Botafogo, no fim da Avenida Beira-Mar, na Praia de Botafogo, defronte à Rua Voluntários da Pátria. Projetado pelo arquiteto Burnier, foi construído na administração do prefeito Francisco Pereira Passos.
Deveria ser uma casa de música, mas nunca passou de um simples bar e restaurante. Seu estilo era tipicamente neo-persa, nada tendo de mourisco, como vulgar e erradamente foi denominado.
A foto mostra o Pavilhão em 1907. O edifício era coberto por cinco cúpulas douradas. Duas escadas de mármore davam acesso às varandas do primeiro pavimento. Nas colunas ao lado das entradas e no teto decorado liam-se numerosas inscrições árabes. No porão alto ficavam as cozinhas, a despensa e a adega.
É importante observar, ainda, que o Pavilhão Mourisco, por iniciativa de Cecília Meireles, por volta da década de 1930, abrigou uma biblioteca infantil que, além do salão de leitura, tinha um setor de manualidades (modelagem, pintura, desenho), um de brinquedos e jogos, além de uma sessãozinha de cinema toda quinta-feira. Foi um dos projetos mais ambiciosos da reforma de Anísio Teixeira.
Apesar de toda a iniciativa de Cecília Meireles, a biblioteca teve os seus dias contados. Com a demissão de Anísio, em 1935, a biblioteca teve dificuldades em continuar existindo. Em 1937, em plena vigência do Estado Novo, o Centro foi invadido pelo interventor do Distrito Federal. O fechamento deveu-se ao fato de que a biblioteca teria no seu acervo um livro de conotações comunistas, cujas idéias eram perniciosas ao público infantil. Tratava-se d’As Aventuras de Tom Sawyer, de Mark Twain.
A experiência do Mourisco, apesar de sua breve duração, representou a semente que mais tarde frutificou na criação das seções infantis das bibliotecas públicas e de bibliotecas infantis no Rio de Janeiro, São Paulo e outros municípios brasileiros.
O pioneirismo desse empreendimento se resume ao fato dessa biblioteca possuir características antes nunca vistas no Brasil. Na época havia bibliotecas que jamais permitiam a entrada de crianças, outras que somente consentiam o acesso de menores acompanhados dos pais. A biblioteca do Mourisco foi além. Não somente estimulava a freqüência de crianças como mantinha os livros ao alcance das mesmas, novidade sequer tentada nas bibliotecas freqüentadas por adultos.
O prédio do Mourisco se transformou rapidamente num ponto de coleta de impostos, ficou abandonado por vários anos para ser totalmente demolido em 1952, durante a construção do Túnel do Pasmado.
O local abrigou durante quase trinta anos uma sede para os esportes olímpicos do Botafogo Futebol e Regatas, conhecida como a sede do Mourisco, resultado de um acordo entre a Prefeitura e o clube, que precisou desocupar a área para a obra do túnel. Na década de 90, outro acordo com o Botafogo e, em 1998, foi inaugurado o Centro Empresarial Mourisco, uma prédio espelhado, onde hoje se encontram as as sedes de várias empresas, salas comerciais e garagens.
Essa é a origem do nome Mourisco, porque uma parte do bairro de Botafogo é conhecida até hoje.
2 comentários:
É uma pena ouvir essas histórias de desmandos com a coisa pública. Maior pesar ainda, é continuar vendo políticos "encantados" com o cargo! Alcimere
Excelente artigo! Também escrevi um artigo sobre o pavilhão mourisco no meu blog, o [PLATA]FORMA, e citei o seu blog como fonte. Dá uma olhada lá! :)
http://plataformablg.wordpress.com/
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